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Literatura 18 

Uma Leitura Sensorial da Cidade

  • Foto do escritor: Alexandre Paiva
    Alexandre Paiva
  • 23 de nov. de 2019
  • 3 min de leitura

Pierce e suas Tríades

Os estudos semióticos têm como foco a análise das formas de linguagens e a construção de sentido. A perspectiva da semiótica peirceana, com base nos estudos de Charles Sanders Peirce, apresenta como categorias do pensamento a relação triádica da primeiridade, secundidade e terceiridade. Nesta perspectiva, trataremos, como fonte de leitura sensorial, da categoria primeira.

A Primeiridade está relacionada ao novo, a possibilidade, a qualidade de um ser que não teria existência por si só, sem referência a outro ser, ou seja, trata-se da abstração. Em síntese, temos os aspectos fenomenais “puramente qualitativos”, uma abstração pura, pré-reflexiva, fora do consciente, não elaborada, podendo ser traduzida como um sentimento ou por uma sensação não consciente. Para ilustrar esta leitura sensorial, escolhemos um dos maiores ícones da cidade de São Paulo, o Mercado Municipal da Cantareira, ou, mais carinhosamente conhecido como, Mercadão.

Projetado pelo escritório do arquiteto Francisco Ramos de Azevedo em 1926, o Mercadão, um deleite às nossas vistas, foi inaugurado em 25 de janeiro de 1933. Após o final da Segunda Guerra Mundial, com a economia brasileira aquecida, o mercado tornou-se o principal entreposto de alimentos da cidade. O prédio – que ocupa um espaço de 12.600 metros quadrados de área construída às margens do rio Tamanduateí – abriga mais de 1.500 funcionários que, juntos, movimentam cerca de 350 toneladas de alimentos por dia em seus mais de 290 boxes.


São Paulo tem cor, tem sabor, tem aroma, tem paladar, e um toque especial, o Mercadão.

Ao passear pelos corredores do mercado municipal, podemos “alimentar”, simultaneamente, todos os nossos sentidos, é um fluxo constante de informações nas linguagens sensoriais.

Efetivamente vivemos aqui a primeiridade peirceana. A cada segundo somos deixados a ser conduzidos pelos nossos sentidos, quase que de forma subconsciente. Tomar um simples café da manhã pode ser uma experiência incrível no mercadão. Assim que você entra, já é possível notar como as cores, cheiros e sabores criam uma atmosfera única nos 12.600 metros quadrados que contemplam esta imensa feira diária.

E por falar em sentidos, abordaremos especialmente três deles:


Visão

Quantas cores e formas são percebidas ? Imagens, produtos, luzes, sombras, de forma a formar um caleidoscópio visual a cada ângulo observado.

A arte não pode ser deixada de lado, um deleite aos nossos olhos, já observaram os vitrais do mercadão? Ao todo, são 32 painéis subdivididos em 72 lindos vitrais, como este:

Eles foram ­­­­­­­­­­criados pelo artista russo Conrado Sorgenicht Filho, famoso pelo trabalho realizado na Catedral da Sé e em outras 300 igrejas brasileiras.


Paladar

É uma delícia caminhar pelos corredores cheios de vida do Mercadão. De um lado pode haver uma barraca de frutas, do outro um empório repleto de quitutes gostosos. E assim, entre um salame artesanal aqui e um queijo fresco ali, o tempo vai passando sem a gente perceber.


Famoso, também, por seu sanduíche de mortadela...

... e pelo pastel de bacalhau...

... duas iguarias que deixaram o mercado de São Paulo popular e amado por todos que os experimentam.


Olfato

No burburinho dos corredores, o visitante se encanta com as cores das frutas e verduras. Mas, são nos cheiros, e que cheiros, que o mercadão se faz imbatível. Eles conseguem conquistar os clientes com um buquê olfativo diversificado, sendo quase irresistível não querer provar um pouco de tudo. O odor marcante dos queijos com ervas começa a dar água na boca. Antes mesmo de avistar os pescados ou embutidos, já sabemos que eles estão por perto. Aí, avistamos jarras de chope gelado ou garrafas de vinho da região e a memória olfativa age no corpo como de súbito! Epa! Está na hora de dar uma parada e apreciar esta tentação divina.

Visitar um lugar como esse, realmente, é a oportunidade de ativar todos os sentidos. De levar para casa lembranças únicas do artesanato local, de tocar em flores raras e ouvir idiomas e sotaques ao redor, numa babel harmônica, e saber que pessoas de todas as partes do globo buscam a mesma coisa nesses mercados – o prazer de se aprofundar e se encantar na cultura sensorial de cada local.

Conheça o Mercadão e entenda Peirce

Vídeo Institucional


Texto Por Zacharias Alvim

 
 
 

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